ENTRE SERINGAIS NATIVOS E MERCADOS SUSTENTÁVEIS:

EXTRATIVISMO, TERRITÓRIO E CAPITAL NAS MARGENS DO RIO MACAUÃ (ACRE)

Autores

Resumo

Desde o início do século XXI, assiste-se à crescente valorização de bens extrativistas vinculados a práticas sustentáveis, fomentada pela ampliação da demanda por produtos naturais comprometidos com a responsabilidade socioambiental, tendência que se acentua em nichos específicos de mercado. Nesse contexto, se sobressaem condutas de firmas transnacionais que instrumentalizam a agenda ambiental como diferencial competitivo. São empresas que adotam certificações, incorporam práticas sociais e ambientais alinhadas aos princípios ecológicos e investem em ações de impacto simbólico, contribuindo com discursos de sustentabilidade amplamente aceitos, mas que permanecem ancoradas na racionalidade capitalista. Este artigo analisa a rede produtiva da borracha natural extraída dos seringais nativos situados ao longo do rio Macauã (Sena Madureira, Acre), enfocando as dinâmicas territoriais decorrentes de sua integração aos circuitos comerciais globais de forte apelo ético-ecológico. A investigação voltou-se ao exame das contradições inerentes à progressão capitalista em seu movimento desigual, ressaltando suas reestruturações mais recentes. Para tanto, adotou-se uma abordagem qualitativa, fundamentada em revisão bibliográfica, levantamento documental, cartografia temática, observação direta, entrevistas semiestruturadas e aplicação de questionário. Desse modo, a análise foi sistematizada em três eixos principais: (I) organização socioeconômica dos seringueiros; (II) rede produtiva e escoamento da borracha; (III) impactos locais da sua inserção no comércio global. Os resultados evidenciaram arranjos produtivos em consolidação, moldados por exigências internacionais e subordinação territorial. Destaca-se a atuação de uma transnacional que, ao assegurar a compra da maior parte do látex a preços superiores aos usuais, impõe uma relação quase-monopsônica, enquanto os seringueiros mobilizam saberes tradicionais que revelam territorialidades tensionadas, sobretudo pela persistência de modos de vida não hegemônicos.

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Biografia do Autor

Willian Carboni Viana, Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Doutor em Geografia, na especialidade de Geografia Humana, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP, Portugal). Realizou estágio de pós-doutorado no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). É professor do magistério superior na Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) e docente credenciado no curso de Mestrado em Geografia da Universidade Federal do Acre (MGeo/UFAC). Dedica-se ao estudo do território como espaço de mediação entre práticas produtivas, dinâmicas socioeconômicas e relações de poder, com ênfase nas transformações hodiernas impulsionadas pelo Regime Alimentar Corporativo.

Manuel de Jesus Masulo da Cruz, Universidade Federal do Amazonas (UFAM)

Possui doutorado em Geografia, com especialização em Geografia Humana, pela Universidade de São Paulo (2007). Atualmente é professor associado da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Atua na área de Geografia, com ênfase em Geografia Agrária, dedicando-se especialmente aos temas relacionados à Amazônia, várzea, agricultura camponesa e formas de organização da produção nos territórios camponeses.

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Publicado

2025-08-07

Como Citar

Carboni Viana, W., & Masulo da Cruz, M. de J. (2025). ENTRE SERINGAIS NATIVOS E MERCADOS SUSTENTÁVEIS: : EXTRATIVISMO, TERRITÓRIO E CAPITAL NAS MARGENS DO RIO MACAUÃ (ACRE). Revista Territorium Terram, 8(15), 278–314. Recuperado de http://www.seer.ufsj.edu.br/territorium_terram/article/view/5800