A construção do trauma na vida e obra de Maya Angelou (1928-2014)
DOI:
https://doi.org/10.69751/arp.v14i27.5647Resumo
O abuso sexual infantil tem consequências terríveis para o desenvolvimento saudável do indivíduo. Entre as intervenções que a psicanálise oferece para tratar desse tipo de caso, a simbolização por meio da arte aparece como alternativa para amenizar a realidade psíquica do trauma. O presente trabalho visa identificar essa simbolização explorada no trauma resultante de abuso sexual relatado na autobiografia da escritora estadunidense Maya Angelou, Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, em consonância com a análise do poema “Bater na criança já era ruim o suficiente”, também de sua autoria. Foram abordadas as definições de trauma para Freud, Winnicott, Ferenczi e Lacan, enfatizando a importância da arte e da linguagem na produção escrita para a compreensão do sofrimento psíquico. A leitura Winnicottiana de trauma – que o concebe especialmente como fracasso de um objeto idealizado em desempenhar sua função preconcebida – é evidentemente identificada com o abuso sexual que Maya experienciou por parte de seu padrasto devido às confusões de sentimentos relatados por ela. Já as ideias lacanianas sobre a importância da linguagem e de seus significantes, estrutura primordial da sua psicanálise, podem ser expressas a partir da análise de vida e obra da autora, a qual encontrou na produção literária uma alternativa para simbolizar seu sofrimento. Observa-se, portanto, a relevância dessa vertente de estudo na psicanálise, bem como as vantagens de estudos de caso extraídos de autobiografias, considerando o modo de escrita (na maioria dos casos fluxo de consciência) como congruente à livre associação, basilar para a leitura psicanalítica.