O duplo no delírio paranoico: um comentário psicanalítico de Cisne negro
DOI:
https://doi.org/10.69751/arp.v14i27.5326Resumo
O artigo investiga a participação do fenômeno do duplo na composição do delírio paranoico por meio do comentário do filme Cisne negro. O delírio é tratado como uma construção autônoma, singular e complexa que sustenta uma tentativa de cura espontânea, e o fenômeno do duplo, como uma vivência estratégica em torno do qual o delírio paranoico pode eventualmente se fundamentar e se desenvolver. Sustenta-se que o estudo do delírio tecido em torno do fenômeno do duplo é capaz de lançar luz sobre aspectos importantes da organização do psiquismo na psicose, em especial no que diz respeito aos distúrbios narcísicos. São realizadas interpolações entre o filme de Aronofsky, o livro O duplo, de Dostoiévski, o balé O lago dos cisnes, de Tschaikowsky, e o conto de fadas O véu roubado, de Musäus. Como embasamento teórico, são trazidas as contribuições de Freud, Lacan, Quinet, Maleval, Rabinovitch, Soler e Melman. São citados ainda artigos oriundos de pesquisa realizada nas plataformas SciELO e Pepsic a partir dos descritores: “Cisne Negro” OR/AND “Psicanálise”. O texto apresenta a seguinte estrutura: inicialmente são situadas as especificidades da constituição do narcisismo na esquizofrenia e na paranoia. Esses aportes teóricos acompanham a análise do primeiro ato do filme, que mostra Nina em sua rotina antes da irrupção da primeira crise. O segundo tópico foca na crise e no trabalho de estabilização. Na parte final, é levantada a hipótese de que o fusionamento com o duplo especular exigido na culminância da performace desencadeou efeitos desagregadores em Nina, levando a uma passagem ao ato. Pergunta-se então acerca das possibilidades de manejo terapêutico diante de tal situação, considerando a recorrência de manifestações análogas em contextos clínicos concretos.