Sofrimento psíquico ou transtorno mental?: Impasses clínico-políticos entre demanda e acolhimento
DOI:
https://doi.org/10.69751/arp.v14i27.5655Resumo
O presente artigo deriva da pesquisa de pós-doutorado realizada em cooperação entre instituição de ensino e Secretaria de Estado de Saúde entre os anos de 2021 e 2023, partindo da questão da “não adesão ao tratamento” em saúde mental. Com o objetivo de coletar elaborações das equipes da Rede de Atenção Psicossocial (Raps) quanto aos impasses clínico-políticos cotidianos em momento de ruptura da Reforma Psiquiátrica e de eclosão da pandemia da covid-19, o artigo tem como metodologia analisar questões emergidas nas discussões de caso com os profissionais, sob os fundamentos da psicanálise de orientação lacaniana. A partir da indagação dos pesquisadores quanto a “casos difíceis” (tentativas de suicídio, automutilação, “autoboicote” e à “não adesão ao tratamento”), extrai-se, como resultado, a diferença entre o acolhimento/tratamento do sofrimento psíquico e a classificação/recolhimento/medicalização do transtorno mental. Constata-se que a impossibilidade da escuta e da construção interdisciplinar gera um “limbo assistencial”, substituído por ações de recolhimento em instituições filantrópicas, entre outras formas de intervenção que retroalimentam demandas no campo do sofrimento psíquico. O artigo aponta, como conclusão, a necessidade de qualificação das equipes que compõem a Raps com supervisão clínico-institucional/territorial, entre outras implementações. Traz, como contribuição para a Raps, os principais sustentáculos da clínica psicanalítica: a transferência, em sua face de resistência e a pulsão de morte.